Em editorial na sua
última edição, a revista semanal francesa "Le Point", de linha editorial
conservadora, descreve um cenário sombrio da situação econômica do Brasil e se
coloca a favor da saída de Dilma Rousseff do governo. Para a publicação, essa
seria a única via para uma possível recuperação. E ainda completa: "quanto
mais cedo melhor".
O texto, assinado por
Nicolas Baverez, começa afirmando que os Jogos Olímpicos do Rio correm o risco
de se tornar, como os de Atenas em 2004, um sinal da falência do país.
Imaginados para comemorar o milagre brasileiro, os Jogos poderiam transformar a
nação de proa dos Brics, nos tempos de Lula, em símbolo do colapso dos
emergentes sob Dilma Rousseff, diz o jornalista.
A dinâmica que havia
feito do Brasil a sétima economia do mundo acabou, segundo a revista. Enquanto
que o crescimento do PIB chegou a 7,5% em 2010, a economia está em recessão em
2015, pela primeira vez desde os anos 1930, com retração de 3%. A inflação
atingiu 9,4%. O desemprego é de 7,5% da população economicamente ativa. A
pobreza aumenta.
O texto prossegue
afirmando que um déficit duplo se instalou: o déficit corrente de 4,5% do PIB,
e o déficit orçamentário de 9%, que elevou a dívida pública a 70% do PIB. A
nota do Brasil foi rebaixada pelas agências de classificação de risco
financeiro para a categoria de investimento especulativo. O real perdeu mais da
metade do seu valor em relação ao dólar, em menos de um ano.
A companhia petrolífera
nacional, a Petrobras, ilustra o desastre do país, escreve a "Le
Point". Depois de ter tido o maior aumento de capital da história do
capitalismo, a empresa registrou mais de 12 bilhões de euros de perdas em 2014,
devido ao gigantesco caso de corrupção. Os desvios de dinheiro ultrapassam 2
bilhões de euros e beneficiaram principalmente o Partido dos Trabalhadores.
Motores parados
Os dois motores de
crescimento do país estão parados: o consumo interno está bloqueado pelo super
endividamento dos lares, ligado à progressão do crédito na última década; a
venda de matérias-primas, que representam 60% das exportações, foi afetada pela
crise na China e pelo contra-choque do petróleo. Além disso, o sistema
previdenciário corre o risco de implodir.
Segundo a revista, o
país representa todas as piores características dos emergentes: competitividade
degredada, exposição à desaceleração da economia chinesa; forte dependência da
renda de combustíveis; dívida externa elevada; duplo déficit estrutural.
Dilma procura atribuir
a catástrofe a causas conjunturais. Mas a "Le Point" diz que elas são
apenas reveladoras dos profundos desequilíbrios que minam o país: estagnação da
produtividade do trabalho, cujo custo aumentou em 150% em dez anos; déficit
crônico de investimentos (18% do PIB contra 31% na Índia); fraqueza da
concorrência indissociável de um protecionismo endêmico; indigência dos
serviços públicos, corte dos gastos sociais; fraqueza do Estado, que se traduz
em uma corrupção sistemática e um aumento da violência (alta de 10% dos
homicídios).
A revista diz que as
causas da crise são internas e acrescenta que Dilma não tem nem a vontade nem a
legitimidade para interromper a espiral infernal na qual a demagogia colocou o
seu país. Sua saída do governo é um requisito à recuperação do Brasil. E
finaliza, afirmando: "quanto mais cedo melhor".
Com informações do brasil.fri
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