O ministro-chefe da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, se encontrou nesta segunda
com militantes dos ditos movimentos sociais em Pernambuco. A
presidente-candidata Dilma Rousseff, por sua vez, fez o mesmo em Brasília. Ela
falou o que se espera entre aliados: transformou o PT em monopolista de todas
as coisas boas que já aconteceram no país e o PSDB em monopolista das ruins.
Até aí, vá lá. Não se esperava o contrário. A coisa beirou o risível, embora
seus convivas tenham achado o máximo, quando ela afirmou que, se vitorioso, o
tucano Aécio Neves pretende acabar com o Mercosul e com os Brics, embora isso
não tenha sido o mais preocupante do encontro. Já chego lá.
Deus do Céu! Que o
Mercosul precise deixar de ser um fator de atraso para o Brasil, isso é
evidente. Acabar com ele, ninguém pretende. Isso é só uma mentirinha. A tolice
espantosa fica por conta dos Brics, que é só uma sigla criada pelo economista
Jim O’Neill, em 2002, para designar países emergentes: Brasil, Rússia, Índia e
China, aos quais se incorporou depois a África do Sul. Não é um bloco
econômico. “Ah, mas eles criaram um banco…” Lamento! Não tem a menor
importância. Ainda que tivesse e mesmo que o Brasil quisesse pular fora,
passariam a existir os Rics… De resto, Aécio, se eleito, não teria poder para
acabar nem com o Mercosul. Imaginem, então, com os Brics. É só mais uma falinha
terrorista. Sei lá qual é a satisfação de falar a um grupo que está lá só para
aplaudir, não importa o quê.
Mas vamos ao que
preocupa. O ato foi organizado para que se entregasse à presidente um manifesto
com 8 milhões de assinaturas, colhidas por entidades petistas disfarçadas de
movimentos sociais, em favor de um plebiscito pela reforma política.
Depois de elogiar o
protoditador da Bolívia, Evo Morales, que se reelegeu presidente (já trato do
assunto), Dilma resolveu tocar música para os ouvidos dos presentes: “Eu diria
de forma radical: eu não acredito que a gente consiga aprovar as propostas mais
importantes, como é o caso do fim do financiamento empresarial de campanha, sem
que isso seja votado num plebiscito. Não basta convocar Assembleia
Constituinte, tem que votar em plebiscito. Se não votar, não tem força
suficiente para fazer.”
Entenderam? Se
reeleita, Dilma deixa claro que pretende dar um golpe no Congresso: ela quer
uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política, o que é um absurdo
teórico, mas a quer embalada por plebiscito. Com a força que tem o Executivo no
Brasil, com sua poderosa máquina publicitária, a presidente quer ir para a
galera. Foi precisamente o que fizeram Hugo Chávez na Venezuela — vejam lá como
está o país — e o que está fazendo Morales, o elogiado, na Bolívia. Os
opositores tiveram de deixar os dois países, a corte suprema se transformou em
braço do Executivo, e as oposições são perseguidas por milícias e forças
policiais.
No encontro, os
presentes atacaram também o jornalismo independente, que eles chamam
“mídia”. Entre os valentes, estavam a CUT, o braço sindical do PT, e o MST, o
braço dito campesino do partido. Até uma certa Paola Estrada, de quem nunca
ouvi falar, presidente de um tal “Movimento Consulta Popular”, decidiu atacar a
imprensa. Um dos pontos de honra dos petistas, caso Dilma vença a eleição, é o
tal “controle social da mídia”.
Então está combinado.
Se reeleita, Dilma prometeu à CUT, ao MST e a outros movimentos sociais
recorrer às mesmas práticas de Hugo Chávez e Evo Morales para reformar a
Constituição. Ou me provem que não. E já deixou claro que esse eventual futuro
governo não pretende comprar fatias do Congresso que se instalará em 2015. Não!
Se reeleita, Dilma vai querer um Congresso Constituinte só pra ela, inteirinho.
Não custa lembrar: o
perfil do Congresso eleito deixa claro que a esquerda é minoritária no Brasil.
Vai ver há petistas achando que já chegou a hora da guerra civil. Pelo visto,
há gente querendo as coisas na lei ou na marra.
Por Reinaldo Azevedo
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