Na prática, o ano de
2016 começa hoje. E com a perspectiva de que muita coisa irá mudar. Para pior,
claro. Não dá para esperar outra coisa de uma nação que pode bem ser resumida
com o título deste texto. Sim, somos o País que se preocupa com as coisas
erradas.
Quebramos o pau pelas
razões mais frívolas. Não temos força para nos indignarmos com o aumento dos
preços da passagem de ônibus e dos combustíveis porque precisamos guardar
forças para começar a pular em bloco de carnaval de rua um mês antes do
Carnaval em si. Por conta de qualquer tipo de proibição em nossos momentos de
lazer regados a cerveja quente de milho em copos plásticos, somos capazes de
arregimentar multidões. Na hora de protestar contra o caos hospitalar, ficamos
quietos como um bando de ovelhas depois de um bom pasto. Agimos como se fosse
normal usar tijolos como papel higiênico.
Aceitamos de bom grado
que prefeituras e governos admitam não ter verbas para educação e saúde, desde
que tenham grana para festas de réveillon com um foguetório hollywoodiano e
atrações musicais de 5ª categoria, com shows de Claudia Leitte, Preta Gil,
Sorriso Maroto, Diogo Nogueira e outros nomes de nulidade artística evidente.
Fiquei sabendo que a
“festinha” na Praia de Copacabana que rolou na semana passada custou
inacreditáveis R$ 17 milhões, que a turma da Secretaria de Turismo do Rio
apressou em declarar que foram pagas com patrocínios. E daí? Isto deu algum
tipo de legitimidade ao desperdício monumental de dinheiro que poderia ter sido
endereçado aos hospitais, por exemplo? Alguém saiu às ruas para protestar
contra tal absurdo? Que nada. Por que estragar a festa e a alegria do povaréu
com “questões menores”, né?
Soube também que
produtores rurais de uma cidade chamada Venda Nova do Imigrante (ES) jogaram 20
mil caixas de tomate na beira da estrada porque o preço baixou muito. VINTE MIL
CAIXAS!!! É, vamos jogar tudo fora. Por que doar esta quantidade de tomates
para creches, instituições e comunidades esfomeadas do Estado, né? Vai dar um
trabalhão, uma encheção de saco…. Somos um País desenvolvido, autossuficiente
em alimentos e com uma logística de Primeiro Mundo, que permite que
trabalhadores abram mão de vender o produto só porque houve uma queda no preço
da fruta. Melhor deixar tudo apodrecer na beira da estrada. Vira “adubo
natural”, né? É a velha merda de sempre: quando o preço do tomate sobe, todo
mundo grita “Meu Deus, olha o preço do tomate! Culpa da crise”; quando o preço
cai, os produtores “Temos que jogar fora, estamos perdendo dinheiro! Culpa da
crise”. Dá para viver com dignidade em um País como este?
Os sinais de que
estamos nos deteriorando como Nação são mais evidentes conforme os dias vão
passando. Ignoramos a gravidade de nossa realidade e os avisos de que tudo vai
piorar. Nossa displicência e conivência com os repetidos erros administrativos
são reflexos de nosso próprio descaso em relação ao que acontece ao redor da
comunidade em que vivemos.
Adoraria demonstrar
algum tipo de otimismo, mas não consigo. Não há fervor de positividade que
resista à perdição de nossas almas, que tratam uma tragédia anunciada como se
fosse mais uma “balada, uhuuuu”.
Nosso presente em 2016
é um lixo. Adivinhe como será o nosso futuro…
Regis tadeu
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