A milícia também está
se expandindo territorialmente no Rio de Janeiro. Se em 2005 elas dominavam
predominantemente a Zona Oeste da cidade, atualmente há informações de milícia
em outros municípios, inclusive no Sul do estado e em áreas da Região
Metropolitana do Rio como a Grande Tijuca.
Uma pesquisa da
antropóloga Alba Zaluar (compare os gráficos acima e abaixo), publicado em
2011, mostra que entre os anos de 2005 e 2011 a milícia foi a atividade
criminosa que mais cresceu comparando com o tráfico de drogas.
O crescimento da
milícia nos últimos anos não foi apenas territorial, mas na ampliação das
atividades ilegais que esses grupos dominam. O segundo capítulo da série do G1
sobre as mudanças nas milícias no Rio mostra que, além da exploração de TV a
cabo ilegal — conhecida como "gatonet" — venda de botijão de gás e
transporte alternativo, os grupos criminosos passaram a dominar recentemente
motéis localizados na Avenida Brasil.
Outra diversificação
dos negócios é a atuação nos imóveis do programa habitacional do governo
federal "Minha Casa, Minha Vida" — as investigações revelam que ela
acontece desde os canteiros de obra.
De acordo com o
Ministério Público (MP) do Rio, o grupo cobra para fazer o que eles chamam de
“segurança” e ainda utiliza quartos dos motéis para praticar atividades
ilegais. “A gente sabe que alguns deles utilizam quartos de determinados motéis
como esconderijo ou escritório”, disse o promotor Marcos Vinícius Leite, de
Campo Grande.
A prática de ocupação
de imóveis do "Minha Casa, Minha Vida" foi adotada nos últimos anos.
Assim que os donos tomavam posse dos apartamentos, eram expulsos pelos
milicianos. No entanto, segundo o MP, já há informação que em algumas regiões
os criminosos estariam fazendo a segurança informal ainda na fase de construção
do imóvel.
“Sabemos de obras que
eles começaram a fazer a ‘segurança’ no canteiro de obras. Depois emplacaram a
segurança lá dentro”, destacou o promotor de Justiça de Santa Cruz, Luiz
Antônio Ayres.
O que a milícia quer é
dinheiro. Controle da van, gás, extorsão, controle da expansão imobiliária,
agiotagem, você tem uma diversidade de atividades econômicas, e nisso o estado
não meteu a mão"
Marcelo Freixo
(PSOL-RJ), deputado
Em abril, o ministro
das Cidades, Gilberto Magalhães, e o da Justiça, José Eduardo Cardozo,
anunciaram que o governo iria investigar as denúncias de que milícias obrigaram
famílias a deixarem imóveis do programa "Minha Casa, Minha Vida".
Numa cerimônia que contou com a presença do governador Luiz Fernando Pezão,
eles assinaram uma portaria que criou um grupo interministerial para se dedicar
à questão.
Para o deputado
estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que presidiu a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) das Milícias, o maior projeto da milícia é o financeiro, onde
se concentra sua força. Segundo ele, apesar de muitas prisões terem sido feitas
após o relatório final da CPI, não é possível combater essa atividade criminosa
sem atingir o seu poder econômico.
“O principal projeto
deles é o projeto financeiro, o que a milícia quer é dinheiro. Controle da van,
gás, extorsão, controle da expansão imobiliária, agiotagem, você tem uma
diversidade de atividades econômicas, e nisso o estado não meteu a mão. O
estado prendeu depois da CPI, mas parou por aí. Isso é um erro. E a CPI das
Milícias diz que se não for no coração econômico da milícia, não vai resolver”,
garantiu o deputado.
Expansão dentro e fora
do Rio de Janeiro
Segundo o promotor Luiz
Antônio, além de crescer no Rio, nos últimos anos a milícia começou a se
expandir para outros estados. “O Rio de Janeiro é pioneiro em tudo no crime. A
milícia é uma 'invenção' nossa, que está sendo exportada para outros estados,
cada um com as suas peculiaridades, mas já identificamos milicianos agindo em
outros estados. Já foram identificados grupos no Pará, São Paulo, Bahia, Ceará,
Mato Grosso do Sul”, garantiu.
Em janeiro de 2015, a
Assembleia Legislativa do Estado do Pará confirmou no relatório final da CPI
das Milícias que de fato foi constatada a existência desse grupo criminoso
atuando no estado. "Pode-se afirmar categoricamente: existem milícias em
plena atuação no estado do Pará, em especial na região metropolitana de Belém,
onde pelo menos três milícias coexistem", diz o documento.
Já o corregedor-geral
da Bahia, Nelson Gaspar, negou que haja formação de milícia no estado, mas
admitiu que existem grupos de policiais militares fazendo a segurança de
comunidades carentes, mas disse que a polícia não tem conhecimento de punições
ou ameaças no caso do morador se recusar a pagar.
O Ministério Público
Federal informou que existe um inquérito policial em andamento para investigar
a formação de milícia privada por fazendeiros. Ainda segundo o MPF, o inquérito
está em fase de cumprimento de diligências.
A Secretaria Pública de
Segurança de São Paulo negou a existência de milícia no estado, mas, de acordo
com uma matéria publicada pelo jornal "O Globo" em 2012, milicianos
disputavam com traficantes o controle de caça-níqueis em São Paulo. Ainda
segundo a reportagem, de um lado estaria uma facção que dominava presídios
paulistas e, de outro, uma milícia formada por policiais militares aposentados
e da ativa.
A controladoria geral
de disciplina do Ceará alegou que não há registro da atuação de milicianos no estado,
no entanto, em novembro de 2015, o deputado estadual Capitão Wagner afirmou, na
Assembleia Legislativa do estado, que além da presença de milícias na Polícia
Militar do estado, os policiais "com afinidade com o tráfico de
droga" receberam promoções dentro da corporação. "É preciso cortar um
a um esses criminosos e cortar a cabeça da cobra", disse o deputado.
Em julho, a Justiça do
Ceará determinou a prisão preventiva da suplente de vereador Fernanda Araújo
Ferreira pelos crimes de tráfico, associação ao tráfico de drogas e
constituição de milícia armada.
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