Os venezuelanos que
estão indo às ruas protestar fizeram um vídeo para correr o mundo. Em poucas
horas, enquanto escrevo, já foi acessado mais de 130 mil vezes. Nele, a
presidente Dilma Rousseff aparece como cúmplice de assassinatos, de
espancamentos, de tortura, de prisões arbitrárias. Pior: isso tudo é verdade.
Uma jovem explica, em espanhol, com legenda em inglês, por que a população está
na rua. Traduzo um trecho (em azul):
– porque estamos
cansados de enfrentar longas filas para comprar leite, farinha, açúcar, óleo e
papel higiênico;
– porque um venezuelano
é assassinado a cada 20 minutos;
– porque nos matam para
roubar um telefone celular;
– porque não temos como
saber o que se passa em nosso próprio país desde que o governo censurou ou
fechou os meios de comunicação independentes;
– também protestamos
porque estudantes e líderes políticos estão presos apenas por discordar do
governo;
– não é justo viver
assim.
E aí vem o momento
constrangedor. A estudante venezuelana afirma que tudo isso se passa sob o silêncio
cúmplice dos governos da região. Nessa hora, a imagem que aparece é a da
presidente Dilma Rousseff. Veem-se cenas impressionantes da truculência das
forças de repressão.
O vídeo termina com um
pedido: “Compartilhe com seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Nós, os
venezuelanos, precisamos de vocês”. Assisti e, confesso, ao ver a imagem da
presidente Dilma como uma das cúmplices da barbárie, senti vergonha.
Mais mortos
No post que escrevi
ontem de manhã, informei que Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, havia
incitado as milícias chavistas a bater nos manifestantes. Essa informação só
aparece hoje na imprensa brasileira, quando já se conhecem as consequências de seu
convite.
É que eu tinha lido no
fim da noite de quarta detalhes de seu discurso na homenagem que fez a Chávez.
Ele recorreu a uma expressão que, na verdade, é do ditador defunto.
Dirigindo-se às milícias, recomendou: “Candelita que se prenda, candelita que
se apaga”. Traduzindo: “Chama que se acende, chama que se apaga”. Traduzindo de
novo, mas agora na linguagem da truculência que toma conta do país: a cada vez
que manifestantes de oposição saírem às ruas, as milícias devem enfrentá-las e
neutralizá-las imediatamente.
É coisa de delinquente.
O relato do jornal El Universal do que se deu nesta quinta é aterrador. No fim
da manhã, um grupo de motoqueiros chavistas chegou para retirar o bloqueio de
uma rua do bairro Los Ruices. Os moradores deram início, então, a um panelaço
para protestar contra a ação desses motoqueiros, que começaram a lançar
garrafas e pedras contra os apartamentos.
Chegaram, em seguida,
os milicianos armados com pistolas e coquetéis molotov. Houve tentativa de
invasão de edifícios residenciais, rechaçadas pelos moradores a garrafadas. Um
dos fascistoides chavistas jogou uma bomba incendiária contra um veículo, que
pegou fogo. Os bombeiros chegaram e foram agredidos pela canalha. A Guarda
Nacional interveio. O conflito resultou em duas mortes: um sargento de 21 anos
e um mototaxista, de 25. Só os milicianos portavam armas. Agora já são 21 os
mortos desde o início do conflito. Muita gente foi presa. Enquanto escrevo, não
se sabe o número.
É evidente que Nicolás
Maduro é responsável por essas mortes. O que esperar de um país em que é o
presidente da República a pregar o confronto de rua, especialmente quando se
sabe que os brucutus do chavismo foram armados pelo próprio governo?
É esse o regime que
Dilma endossa ao afirmar que a posição do Brasil é aquela expressa na nota
criminosa emitida pelo Mercosul. Que figure como cúmplice de mortes, pancadaria
e tortura, convenham, é mais do que justo.
Por Reinaldo Azevedo
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