Teremos o mais violento
segundo turno de uma eleição presidencial. O que Marina sofreu, Aécio sofrerá
em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto criminoso de poder do petismo. O
senador tucano vai encontrar pelo caminho várias armadilhas. A maior delas é no
campo econômico.
Estamos vivendo um
momento histórico. A eleição presidencial de 2014 decidirá a sorte do Brasil
por 12 anos. Como é sabido, o projeto petista é se perpetuar no poder. Segundo
imaginam os marginais do poder — feliz expressão cunhada pelo ministro Celso de
Mello quando do julgamento do mensalão —, a vitória de Dilma Rousseff abrirá
caminho para que Lula volte em 2018 e, claro, com a perspectiva de permanecer
por mais 8 anos no poder.
Em um eventual segundo
governo Dilma, o presidente de fato será Lula. Esperto como é, o nosso Pedro
Malasartes da política vai preparar o terreno para voltar, como um Dom Sebastião
do século XXI, mesmo que parecendo mais um personagem de samba-enredo ao estilo
daquele imortalizado por Sérgio Porto.
Diferentemente de 2006
e 2010, o PT está fragilizado. Dilma é a candidata que segue para tentar a
reeleição com a menor votação obtida no primeiro turno desde a eleição de 1994.
Seu criador foi
derrotado fragorosamente em São Paulo, principal colégio eleitoral do país.
Imaginou que elegeria mais um poste. Não só o eleitorado disse não, como não
reelegeu o performático e inepto senador Eduardo Suplicy, e a bancada petista
na Assembleia Legislativa perdeu oito deputados e seis na Câmara dos Deputados.
A resistência e a
recuperação de Aécio Neves foram épicas. Em certo momento da campanha, parecia
que o jogo eleitoral estava decidido. Marina Silva tinha disparado e venceria —
segundo as malfadadas pesquisas. Ele manteve a calma até quando um dos seus coordenadores
de campanha estava querendo saltar para o barco da ex-senadora.
E, neste instante, a
ação das lideranças paulistas do PSDB foi decisiva. Geraldo Alckmin poderia ter
lavado as mãos e fritado Aécio. Mas não o fez, assim como José Serra, o senador
mais votado do país com 11 milhões de votos.
Foi em São Paulo que
começou a reação democrática que o levou ao segundo turno com uma vitória
consagradora no estado onde nasceu o PT.
Esta campanha eleitoral
tem desafiado os analistas. As interpretações tradicionais foram
desmoralizadas. A determinação econômica — tal qual como no marxismo — acabou
não se sustentando. É recorrente a referência à campanha americana de 1992 de
Bill Clinton e a expressão “é a economia, estúpido”.
Com a economia
crescendo próximo a zero, como explicar que Dilma liderou a votação no primeiro
turno? Se as alianças regionais são indispensáveis, como explicar a votação de
Marina?
E o tal efeito
bumerangue quando um candidato ataca o outro e acaba caindo nas intenções de
voto? Como explicar que Dilma caluniou Marina durante três semanas, destruiu a
adversária e obteve um crescimento nas pesquisas?
Se Lula é o réu oculto
do mensalão, o que dizer do doleiro petista Alberto Youssef? Imagine o leitor
quando o depoimento — já aceito pela Justiça Federal — for divulgado ou vazar?
De acordo com o ministro Teori Zavascki, o envolvimento de altas figuras da
República faz com que o processo tenha de ir para o STF.
E, basta lembrar,
segundo o doleiro, que só ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da Refinaria Abreu
e Lima. Basta supor o que foi desviado da Petrobras, de outras empresas e
bancos estatais e dos ministérios para entender o significado dos 12 anos de
petismo no poder. É o maior saque de recursos públicos da História do Brasil.
Nesta conjuntura, Aécio
tem de estar preparado para um enorme bombardeio de calúnias que irá receber.
Marina Silva aprendeu na prática o que é o PT. Em uma quinzena foi alvo de um
volume nunca visto de mentiras numa campanha presidencial que acabou destruindo
a sua candidatura.
Não soube responder
porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído dela.
Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido biblicamente,
simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou que o PT tem como
princípio destruir reputações. E ela foi mais uma vítima desta terrível
máquina.
O arsenal petista de
dossiês contra Aécio já está pronto. Os aloprados não têm princípios,
simplesmente cumprem ordens. Sabem que não sobrevivem longe da máquina de
Estado.
Contarão com o apoio
entusiástico de artistas, intelectuais e jornalistas. Todos eles fracassados e
que imputam sua insignificância a uma conspiração das elites. E são milhares
espalhados por todo o Brasil.
Teremos o mais violento
segundo turno de uma eleição presidencial. O que Marina sofreu, Aécio sofrerá
em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto criminoso de poder do petismo. O
senador tucano vai encontrar pelo caminho várias armadilhas. A maior delas é no
campo econômico.
O governo do PT gestou
uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da história do Brasil
republicano em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto
— que teve no seu triênio presidencial duas guerras civis — e Fernando Collor —
que recebeu a verdadeira herança maldita: uma inflação anual de quatro dígitos.
O PT deve imputar a
Aécio uma agenda econômica impopular que enfrente radicalmente as mazelas
criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o candidato oposicionista
deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como será o seu governo é ele
— somente ele.
Aécio Neves tem todas
as condições para vencer a eleição mais difícil da nossa história. Se Tancredo
Neves foi o instrumento para que o Brasil se livrasse de 21 anos de arbítrio, o
neto poderá ser aquele que livrará o país do projeto criminoso de poder
representado pelo PT. E poderemos, finalmente, virar esta triste página da
nossa história.
Marco Antonio Villa é
historiador/NOBLAT O GLOBO
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