Temos assistido nos últimos anos uma mudança no perfil das chuvas no Brasil, sobretudo na região semiárida brasileira. Essas mudanças têm efeitos cumulativos na população que está no campo, mas também que está nas cidades. Ocorrendo de diversas formas, seja na diminuição geral das chuvas, ou mesmo na variabilidade delas, o que significa que em um único dia chove o que deveria chover em dois meses, ou mesmo chove apenas em pequenas áreas isoladas e a maioria permanece seca.
Esta diminuição da água
no ambiente tem impactado de forma silenciosa a produção de alimentos, que
historicamente tem se mantido pela produção de “sequeiro”, que é o plantio
somente nas épocas das chuvas, uma característica geral dos sistemas produtivos
da agricultura familiar camponesa no Semiárido brasileiro.
Há impactos na
diminuição da agrobiodiversidade dos ecossistemas que, tendo a água como
elemento fundamental à vida, ocasiona reduções da flora e da fauna. Tudo isto
tem um impacto direto nas economias locais que sofrem com o desabastecimento
dos mercados locais, diminuição das ofertas, aumento de preços dos alimentos e
consequentemente aumento das remessas de dinheiro, que antes circulavam dentro
dos territórios e agora começam a ser carregados para fora.
Um exemplo aconteceu no
Ceará no ano de 2010, quando o preço do feijão atingiu o maior valor dos
últimos cinco anos. E em 2012, em Pernambuco quando as perdas com milho e
feijão alcançaram 98%.
Outra problemática
aliada a este processo é o avanço da desertificação, fenômeno que corresponde à
transformação de uma área em deserto. Segundo a Convenção das Nações Unidas de
Combate à Desertificação, este fenômeno é "a degradação da terra nas
regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores,
entre eles as variações climáticas e as atividades humanas". Estudo realizado
em 2013 pela Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado “A Economia da
desertificação, da degradação e da seca” aponta que até 5% do Produto Interno
Bruto (PIB) agrícola mundial é perdido anualmente por causa da degradação e desertificação
do solo.
Neste levantamento de
dados dos municípios de Caruaru e Surubim, na região Agreste, e Serra Talhada e
Ouricuri, no Sertão, em Pernambuco, constatamos um aumento do Índice de Área
Ambientalmente Susceptível (IAS), a partir do Sistema de
Alerta Precoce Contra
Desertificação (SAP), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Esta ocorrência foi
entre os anos 2000 e 2010, nos quatro, percebemos que houve aumento do IAS ao
longo desse período, isto significa que as terras estão menos produtivas, o solo está de pior
qualidade, o clima piorou e as condições objetivas de produção também,
impactando, inclusive, na qualidade de vida das pessoas. Essas variáveis são as
utilizadas para calcular o índice.
Os meios de comunicação
vêm noticiando que a atual estiagem, que já dura quatro anos, é a maior dos
últimos 50 anos. No entanto, ao pesquisar os municípios de Caruaru e Surubim,
no Agreste Central e Setentrional e Serra Talhada e Ouricuri no Sertão Central
e Araripe, de Pernambuco, através de dados da Agência Pernambucana de Água e
Clima (APAC), constatamos que a as chuvas vem diminuindo há 40 anos. Ou seja,
estamos sentindo agora os efeitos da estiagem de forma mais aguda, como
reservatórios totalmente secos, colapso nas cidades, baixíssima produção de
alimentos pela agricultura.
Asa Brasil semiarido
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