Investigadores
suspeitam que pagamento de R$ 2,5 milhões feito a Luís Cláudio esteja ligado à
compra das aeronaves suecas pela FAB. Ex-presidente considera hipótese
‘absurda’
A Polícia Federal
suspeita que os pagamentos de R$ 2,5 milhões feitos a um dos filhos do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenham relação não só com a edição de
medidas provisórias, mas também com a compra dos caças suecos Gripen, da Saab,
pela Força Aérea Brasileira (FAB). Em depoimento prestado à PF no último dia 6,
Lula disse que essa hipótese é “um absurdo”. O esquema resultou na Operação
Zelotes.
Perguntado se os
repasses a Luís Cláudio Lula da Silva foram “alguma contraprestação por
serviços prestados” pelo ex-presidente “à Saab para que essa viesse a vencer a
concorrência para a compra dos caças”, Lula disse, conforme registrado na
transcrição do depoimento, de 10 páginas, que “nega veementemente e considera
essa hipótese um absurdo, já que nunca teve atuação relacionada a esse
assunto”.
O delegado Marlon
Cajado também quis saber se os valores pagos a Luís Cláudio seriam “em
decorrência da elaboração de medidas provisórias por ele, enquanto presidente,
ou para influenciar em ‘vetos’ ou ‘não vetos’ a emendas em medidas
provisórias”. Lula afirmou que considera essa hipótese “outro absurdo, uma vez
que as medidas provisórias seguiram todo o trâmite regular dentro do Poder
Executivo e foram aprovadas pelas duas casas do Congresso Nacional”.
A empresa LFT Marketing
Esportivo, que pertence a Luís Cláudio Lula da Silva, recebeu pagamentos de R$
2,5 milhões da Consultoria Marcondes e Mautoni Empreendimentos, do lobista
Mauro Marcondes Machado. Ele e a mulher, Cristina Mautoni, estão presos,
acusados de operar suposto esquema de pagamento de propina a servidores e
autoridades federais para viabilizar medidas provisórias do interesse de
montadoras de veículos.
Mauro Marcondes também
foi representante do grupo que controla a Saab. Documentos apreendidos pela PF
indicam que ele também fez gestões junto ao governo federal pela compra dos
caças. Lula foi questionado sobre documentos apreendidos na Marcondes e Mautoni
que faziam menção a tratativas com o ex-presidente e o Instituto Lula para
favorecer a Saab. Um deles citava uma “solicitação da empresa sueca para que o
ex-presidente levasse seu apoio à contratação da Saab para a presidente Dilma
(Rousseff)”. O ex-presidente disse que “nunca recebeu ou levou esse assunto ao
conhecimento da presidente”. Lula frisou que “nunca discutiu com Dilma sobre a
contratação de caças para a indústria brasileira”.
A negociação para a
compra dos caças começou no governo Lula e foi concluída na gestão Dilma. Ao
fim de seu segundo mandato, em 2010, o ex-presidente declarou que conversaria
sobre o assunto com a então presidente eleita. “É uma decisão importante,
daquelas que não posso tomar sozinho, faltando um mês e meio para terminar meu
mandato, porque é uma decisão do longo prazo.” O ex-presidente afirmou que
nunca tratou a respeito com Mauro Marcondes.
Conferências: O
ex-presidente foi questionado pela PF sobre arquivo encontrado no computador da
empresa de Marcondes, no qual estava registrado: “A MP foi combinada entre o
pessoal da Fiat, o presidente Lula e o governador Eduardo Campos (morto em
2014)”. “Combinação nesse tipo é coisa de bandido”, reagiu Lula, acrescentando
que não ocorreu a transação mencionada.
O ex-presidente
“afirmou ainda que mesmo após sua saída do cargo público, nunca nem ele nem
seus parentes realizaram atividade de lobby ou consultoria empresarial. Disse
que fazia questão de informar que realiza conferências no Brasil e no exterior,
sempre em defesa do interesse nacional, e que tomou como decisão de honra não
interferir na gestão do novo governo”, registrou a PF.
Lula disse acreditar
“que Luís Cláudio tenha procurado Mauro Marcondes para obter patrocínio para
seu projeto na área de futebol americano” e que, pelo que sabe, o filho foi
contratado para estudos “na área do esporte”.
DISPENSA: A defesa do
ex-presidente entrou com uma petição na Justiça Federal de Brasília para pedir
que ele seja dispensado de prestar novo depoimento no processo da Operação
Zelotes. O pedido foi acatado pela Justiça no fim da tarde. Os advogados de
Lula argumentam que ele já falou à PF, no dia 6, sobre o assunto.
Pena de 2 mil anos
Coordenador da
força-tarefa que investiga a Operação Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol
afirmou ontem que, se somados os crimes em série atribuídos ao empreiteiro
Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira que leva seu sobrenome, a pena atribuída
a ele poderia passar dos 2 mil anos de reclusão. Mas, como no sistema penal
brasileiro crimes semelhantes não acumulam penas, a expectativa da Procuradoria
é que o empresário seja condenado a “menos de 100 anos de prisão”. “Se formos
somar as penas de todos os crimes em série, por incrível que pareça, as penas
somariam de 2 mil anos de prisão”, disse o procurador em entrevista à rádio
Bandnews FM. “Mas, quando aplicamos a regra de crimes continuados, porque a
pessoa cometeu uma série de crimes em sequência, a pena vai para muito menos
que isso. A expectativa é de uma pena inferior a 100 anos de prisão. Estamos
fazendo nossas alegações finais e avaliando isso”, afirmou. Odebrecht está
preso preventivamente desde junho do ano passado, acusado de pagamento de R$
137 milhões em propinas e de atrapalhar as investigações da Lava-Jato.
Didi Galvao
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