Cientistas da Embrapa
desenvolveram uma técnica que aumenta a prole de ovinos da raça Santa Inês.
Eles detectaram que certas ovelhas têm uma alteração natural no gene GDF9
(Growth Differentiation Factor 9) que aumenta a taxa de ovulação e,
consequentemente, permite a geração de mais cordeiros por estação reprodutiva.
A ideia, então, foi reproduzir os animais que tinham essa alteração para que um
maior número de ovelhas do rebanho tenha a capacidade de produzir mais
cordeiros.
O trabalho realizado na
Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) é o de reproduzir esses ovinos mais
prolíficos da raça Santa Inês para que suas matrizes, reprodutores, sêmen e
embriões possam estar disponíveis para os produtores. A maioria das ovelhas tem
apenas um filhote por gestação, pois elas são, na sua maioria,
mono-ovulatórias, ou seja, só liberam um óvulo por ciclo. O uso da tecnologia
aumenta a chance de ocorrer gestações de gêmeos também conhecidas como
gemelares ou múltiplas.
A taxa de ovulação, que
pode variar com a raça, idade e condição nutricional da ovelha, é regulada por
ação de diversos genes. No entanto, existem genes de efeito principal, como o
GDF9 que contribuem de forma preponderante para a determinação da taxa de
ovulação e consequentemente da prolificidade ou número de cordeiros por parto
por ovelha.
Alterações genéticas
naturais em genes que controlam a taxa de ovulação e prolificidade podem ser
encontradas em ovinos de várias raças. No caso da raça Santa Inês, os
pesquisadores da Embrapa encontraram o FecGE (FecG-Embrapa - Fecundity Gene) do
gene GDF9. Assim, descobriu-se que ovelhas com a variante FecGE têm uma taxa de
ovulação 82% maior que as outras que não possuem essa alteração.
É possível detectar o
alelo FecGE por meio de exame laboratorial desenvolvido e patenteado pela
Embrapa e que está disponível para laboratórios de genética. "Trata-se de
uma metodologia de genotipagem, baseada em técnicas de biologia molecular, que
permite identificar de forma rápida e eficiente essa mutação em qualquer
rebanho", explica o pesquisador Eduardo de Oliveira Melo, da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que liderou o desenvolvimento do
protocolo para os exames laboratoriais.
Além do trabalho da
pesquisa de multiplicação e validação do uso de ovinos prolíficos, o produtor
também pode, com base nos resultados laboratoriais e na constatação da
capacidade de gerar mais cordeiros das ovelhas, direcionar os cruzamentos do
seu rebanho a fim de obter crias portadoras da variante FecGE que serão utilizadas
como reprodutores e matrizes. Com o uso intensivo dos animais FecGE em
acasalamentos, a cada geração, haverá um aumento gradativo da prolificidade
média e, consequentemente, da produção de crias no rebanho. Assim, o produtor
poderá planejar os cruzamentos no seu rebanho de acordo com as suas estratégias
e necessidades.
Pesquisa de mais de uma
década
"Essas pesquisas
iniciaram-se na Embrapa há mais de 15 anos com raças lanadas e a partir de 2005
com raças deslanadas", conta o pesquisador Samuel Rezende Paiva,
atualmente no Programa Embrapa Labex Estados Unidos, que, na época, trabalhava
na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia como coordenador desse projeto.
"A principal característica do sucesso dessa pesquisa e de seus
desdobramentos atuais foi a integração entre equipes de várias Unidades da
Embrapa: Tabuleiros Costeiros, Caprinos e Ovinos e Pecuária Sul, bem como
instituições de ensino e pesquisa como Universidade de Brasília e a Empresa
Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa)", complementa.
Durante mais de seis
anos, o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros Hymerson Costa Azevedo e
sua equipe trabalharam na coleta e análise de amostras de sangue de inúmeros
animais de várias gerações do Núcleo de Conservação de Ovinos Santa Inês, do Campo
Experimental Pedro Arle, localizado no Município de Frei Paulo, no agreste
central sergipano. Dessa forma o cientista identificou, selecionou e
multiplicou animais portadores da variante FecGE de diferentes famílias,
mantendo com isso uma diversidade genética dentro do rebanho.
Vale ressaltar que a
variante sozinha não é capaz de propiciar o aumento no número de crias. O
desempenho dos animais é reflexo da combinação entre seu potencial genético e
as condições do ambiente em que vivem. Assim, a utilização da genética FecGE
requer melhorias no manejo geral, especialmente nutricional, que, por sua vez,
podem gerar aumento de custos. Mas o benefício do aumento da produção deve
compensar o aumento dessas despesas devendo cada produtor decidir se é
vantajosa a adoção da tecnologia.
A pesquisa desenvolvida
com a multiplicação de ovinos prolíficos pode agregar valor à ovinocultura no
Brasil que atualmente possui baixos níveis de produtividade. Realidade também
do Nordeste brasileiro, região detentora do maior rebanho ovino do País. O
pacote tecnológico será valioso para que a produção nacional consiga aumentar
para atender ao mercado interno. Historicamente, o Brasil é importador de carne
ovina e o consumo por habitante ainda é baixo em relação a outros países, demonstrando
potencial de crescimento. Estudos mostram que a atividade ainda pode crescer
muito, na medida em que o mercado crescer e incorporar a carne de cordeiro na
sua dieta rotineira, como aconteceu com o frango.
Em especial, a
tecnologia pode beneficiar significativamente os sistemas produtivos e
agricultores familiares da região Nordeste do Brasil, além de outras regiões
brasileiras. "Apesar de essa variante ter sido inicialmente identificada e
validada na raça Santa Inês, já temos resultados experimentais de sua presença
em praticamente todas as raças localmente adaptadas de ovinos deslanados do
Brasil, em especial a raça Morada Nova", complementa o pesquisador Samuel
Paiva.
Levando em consideração
que um dos maiores entraves para a criação de ovinos no Brasil é o baixo índice
de produtividade em consequência do fraco desempenho reprodutivo e produtivo
dos rebanhos, a tecnologia desenvolvida pela Embrapa pode resultar em impactos
significativos para a ovinocultura do País.
A genética de ovinos da
raça Santa Inês contendo a variante FecGE estará disponível no sistema de
produção nos próximos dois anos. "A ideia é continuar selecionando,
mantendo, multiplicando, caracterizando e validando o uso desses animais mais
prolíficos e ao mesmo tempo analisando o impacto da sua utilização na
produtividade e eficiência econômica dos sistemas de produção", disse o
pesquisador Hymerson. "Em pouco tempo, matrizes, reprodutores, sêmen e
embriões de ovinos Santa Inês mais prolíficos poderão estar disponíveis para os
produtores", acredita ele.
Ivan Marinović Bršćan
(1634/09/58/DF)
Embrapa Tabuleiros
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