Cientistas da
Austrália, China, Nova Zelândia e Brasil se uniram numa pesquisa e confirmaram
a eficácia do trombolítico de rtPA (ou Alteplase), no tratamento do AVC –
Acidente Vascular Cerebral.
O trabalho foi para
avaliar a segurança do tratamento com drogas trombolíticas – medicamentos para dissolver coágulos – que
era colocado em cheque pelo risco de sangramento no cérebro.
No Brasil, o estudo foi
coordenado pelos professores Octávio Pontes-Neto, da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto (FMRP) da USP, e Sheila Cristina Ouriques Martins, coordenadora
do Programa de AVC do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Chefe do Serviço
de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento.
Além de confirmar a
eficácia do medicamento no tratamento do AVC, as pesquisas mostraram que uma
dose mais baixa do medicamento – 0,6 mg/kg de peso, ante 0,9 mg/kg de peso que
é a dose padrão – leva à redução de aproximadamente um terço dos casos de complicações
hemorrágicas.
E, após 90 dias de
tratamento com dosagem menor da medicação, os cientistas observaram ainda
redução da morte de pacientes.
“Esse benefício
adicional em segurança com a dose reduzida só foi ofuscado por um pequeno
aumento dos casos que permanecem com sequelas residuais do AVC em 3 meses”.
Os pesquisadores
relatam que para cada mil pacientes tratados com a dose reduzida, 41
apresentaram mais sequelas residuais do AVC (ajuda para se vestir ou andar) em
comparação com a dose padrão.
Porém, 19 pessoas a
menos morreram com esta dose reduzida. “Por este motivo, a dose convencional,
0,9 mg/kg, deve continuar sendo a mais utilizada na rotina”, avaliam.
Segurança
Mesmo com os problemas
enfrentados com a dose reduzida, os pesquisadores acreditam que essa pode ser
uma forma ainda mais segura de tratar os pacientes com AVC.
“Um dos achados
secundários do estudo foi que o risco de sangramento parece ser maior em
pacientes que já estavam usando remédios antiplaquetários como a aspirina.
Nestes casos, o uso da dose reduzida seria uma opção mais segura e com eficácia
semelhante em relação a dose convencional”, relata Pontes-Neto.
Para os pesquisadores,
estes resultados podem ampliar a segurança e favorecer a administração do
tratamento trombolítico para AVC no País.
“Atualmente menos de 2%
dos pacientes com AVC isquêmico são tratados com trombolíticos no Brasil, e o
acesso a este tratamento precisa ser ampliado. Com os resultados do estudo
multicêntrico, a dose convencional ainda deve continuar sendo a padrão, porém
agora temos a opção de oferecer este tratamento com ainda mais segurança em
pacientes que apresentam alto risco de sangramento”, afirma Pontes-Neto.
Custo
O professor lembra que,
com a utilização de menor dose do medicamento para parte dos pacientes, o custo
do tratamento diminui, “facilitando a utilização em maior escala no Sistema
Único de Saúde (SUS), assim como em países onde o tratamento ainda é muito
caro.”
Os coordenadores
brasileiros também são pesquisadores da Rede Nacional de Pesquisa em AVC.
O estudo teve
financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e do Ministério da Saúde e foi conduzido totalmente independente da
indústria farmacêutica.
A coordenação mundial
do estudo foi do professor Craig Anderson, do George Institute da
Austrália. Os resultados acabam de ser
publicados no principal jornal científico na área médica no mundo, o New
England Journal of Medicine.
Com informações do
HCFMRP e Jornal da USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário