O primeiro sentimento que
acompanha qualquer derrota é a sensação de isolamento. E, para o perdedor, a
angústia se faz presente até se desanuviarem as dúvidas, as razões do fracasso.
A derrota é um percalço do
caminho. Nela não há definitividade. Quem se dispõe a competir tem que
vislumbrar tanto a vitória quanto o fracasso.
Em política não é diferente.
Todavia, tem um componente capaz de diluir os efeitos da perda: a derrota é
coletiva, porque envolve e atinge grupos, interesses, tendências, correntes
partidárias, ideologias.
Não pretendo comentar aqui a
derrota da oposição em Chorrochó, tampouco a vitória da situação, que teve uma
votação expressiva e respeitável, mas as formas de operacionalidade da campanha
eleitoral que se findou.
Não há santo de um lado, nem de
outro, todos sabemos disto. Mas tem-se notícia de que a campanha teve de tudo,
ou quase tudo, menos civilidade: houve agressões físicas e verbais, eventual
compra de votos, insinuações de que casas populares e bolsa família serviram
como barganha, distribuição de blocos para construção num povoado, uma rádio
comunitária tirada do ar e até tentativa de invasão da casa de um vereador da
oposição por seguidores do grupo vitorioso.
Somam-se a esta confusão: a
simultaneidade de afastamento do prefeito, acusado de improbidade
administrativa, a ascensão do vice que agora integra o grupo adversário, a
acusação de subtração de documentos e computadores da Prefeitura e o saque de
dinheiro público na iminente saída do prefeito, o que não deixa de ser
questionável. A lista de práticas condenáveis mais parece um caminho de
formigas.
As sentenças são extremas. Aqui e
acolá o Poder Judiciário quase sempre precisa tomar decisões amargas, embora
sensatas, em nome do interesse público.
A sentença proferida em
20.09.2012, que afastou o prefeito, foi severa por dever de ofício: proibiu a
retirada de “qualquer bem, computador, equipamento, arquivo digital e qualquer
documento pertencente à Prefeitura Municipal de Chorrochó” e ainda vedou ao
prefeito afastado “proceder com qualquer autorização e/ou pagamento como
ordenador de despesa”. Mais: bloqueou as contas do Município de Chorrochó do
Banco do Brasil, em Belém do São Francisco e do Bradesco, em Chorrochó. Em
qualquer município que adota as mínimas cautelas de seriedade administrativa
não seria necessário um juiz decidir isto. É vergonhoso. É constrangedor. Ora,
se a Justiça determinou assim é porque vislumbrou práticas que justificaram o
extremismo da decisão. E a função da Justiça é dizer o direito, aplicando-o
consoante as provas disponíveis no processo. Muito feio para a administração,
ruim para a população e péssimo para Chorrochó, enquanto município. Pergunto:
no mundo de hoje ainda é admissível governar assim? Estamos atrasadíssimos no
que tange aos conhecimentos de administração pública.
O fato é que tudo isto dificultou
o convívio entre oposição e situação e tornou a campanha eleitoral
irrespirável. Faltou civilidade, faltou equilíbrio. Sobrou destrambelho,
disparate.
Se a derrota não arranhou nenhuma
consciência no percurso, nem sempre é amarga. A vitória às vezes é alcançada
sobre alicerces frágeis e, como tais, sujeitos a desmoronamentos. A campanha
eleitoral acabou. É hora de Chorrochó voltar à normalidade familiar tão própria
de sua tradição.
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