O Brasil não carece
somente de reformas, sim, de reconstrução (que deveria se iniciar pela
revolução educativa). Nossa sociedade não foi construída, foi instalada. Nossas
cidades não foram planejadas, foram plantadas (ao acaso). Nossos interesses
nunca foram coletivos, fundados na razão objetiva demarcadora do Ocidente (de
tradição helênica e judaico-cristã). Ao contrário, sempre fomos
individualistas, adeptos da razão subjetiva ou instrumental (tal qual delineada
a posteriori pelo Iluminismo).
Desde o princípio,
portanto, o Brasil é um enorme Titanic: afunda cada vez mais no oceano dos seus
vícios e das suas incongruências, mas a orquestra continua tocando. A quase
totalidade das pessoas, no entanto, desgraçadamente, percebem exclusivamente o som
da orquestra (o carnaval, a superfície, o vulgar), sem notar o naufrágio em
curso (a grande tragédia, há muito tempo anunciada). Seguem 10 indicadores
desse naufrágio. O Brasil é:
1) campeão mundial em
homicídios (em números absolutos): foram 56.337 assassinatos em 2012 (últimos
dados disponíveis - veja Mapa da Violência e Datasus do Ministério da Saúde);
neste item nenhum país do mundo está na frente do Brasil, mesmo considerando os
mais populosos como China e Índia;
2) o 12º país mais
violento do planeta, com a taxa aberrante de 29 assassinatos para cada 100 mil
pessoas, se considerarmos os países com dados para 2012; é o 13º se todos os
países com dados disponíveis na ONU forem incluídos na lista (UNODC; Datasus;
IBGE);
3) campeão mundial no
item "cidades mais violentas em 2013", de acordo com o Conselho
Cidadão para a Segurança e Justiça Penal AC: das 50 mais homicidas do planeta,
16 estão no Brasil (Maceió, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Salvador, Vitória,
São Luís, Belém, Campina Grande, Goiânia, Cuiabá, Manaus, Recife, Macapá, Belo
Horizonte, Aracaju);
4) o terceiro país no
ranking prisional em 2014: conta com 711 mil presos (computando os
domiciliares), segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (maio de 2014),
ficando atrás apenas dos Estados Unidos (2.228.424) e China (1.701.344). Já
ultrapassamos a Rússia (com 676 mil presos) (veja dados do Centro Internacional
de Estudos Penitenciários - ICPS, na sigla em inglês - da Universidade de
Essex, no Reino Unido);
5) campeão mundial em
violência contra professores, de acordo com estudo desenvolvido pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); 12,5% dos
professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de
intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. É o índice mais alto entre
os 34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem
a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%. Na Coreia do Sul, na Malásia e na
Romênia, o índice é zero;
6) o território onde
acontecem mais 10% de todos os homicídios do planeta (UNODC); de 1980 até 2014
foram 1.360.000 mortes intencionais; somente em 2012 aconteceram 101.149 mortes
violentas (somando-se as mortes intencionais e as do trânsito);
7) o 79º país no IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano); computando-se a desigualdade, 95º (PNUD) (a
desigualdade, a miséria e a pobreza significam violência institucionalizada);
8) um dos últimos
colocados em todos os rankings internacionais sobre educação (PISA, por
exemplo); dentre 65 países, o Brasil está em 55º no ranking de leitura, 58º no
de matemática e 59º no de ciências; um dos piores colocados em termos de
escolaridade média da população: 7,2 (igual Zimbábue) (PNUD);
9) o 8º país em
analfabetismo - cerca de 13 milhões de brasileiros são completamente
analfabetos (UNESCO);
10) um dos países com
maior número de analfabetos funcionais: ¾ da população entre 15 e 64 anos não
conseguem ler e escrever de modo satisfatório (nem compreendem o que lê nem
fazem operações matemáticas simples) (Instituto Paulo Montenegro, Inaf e IBGE);
Os indicadores que
acabam de ser enumerados mostram que ainda é enorme nosso desprezo pela vida
humana. Qualquer pessoa dotada de bom senso diria: diante de tanta violência e
mortes, com certeza o Brasil deve estar executando um dos programas mais desenvolvidos
do planeta de prevenção da violência e da criminalidade. Decepção: isso não
está ocorrendo no nosso país. O programa preventivo lançado pelo governo Lula
(Pronasci) foi substituído por outro (da presidenta Dilma), chamado
"Brasil Mais Seguro", em 2012. O primeiro morreu e o segundo não
gerou os efeitos positivos esperados (os índices de mortes continuam
aumentando).
Fonte: Luiz Flávio
Gomes é jurista e diretor-presidentde do Instituto Avante Brasil
(professorLFG.com.br
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