sábado, janeiro 16, 2016

FENÔMENO EL NIÑO MUITO FORTE DEVE INFLUENCIAR O REGIME DE CHUVAS SOBRE O BRASIL EM 2016


Como foram as chuvas passadas?

Como de costume voltamos a falar sobre a previsão da chuva no Semiárido Brasileiro para os próximos meses. Antes da previsão vamos fazer a avaliação da chuva dos últimos cinco anos de outubro 2010 a setembro 2015. Olhando os gráficos ao lado que mostram a chuva em Juazeiro, BA (medida na Estação Meteorológica de Mandacaru, pela Embrapa Semiárido):

- Cada ano está dividido em duas partes, uma é a estação chuvosa e a outra é a estação seca.

- A quantidade de chuva anual varia entre 174 e 475 mm, ficando sempre abaixo da média dos últimos 40 anos de 508 mm.

- A estação chuvosa de cada ano é muito diferente uma da outra: O mês mais chuvoso em cada ano é outro.

- O mês mais chuvoso destes cinco anos foi em fevereiro de 2012, num ano de estiagem.

- A estiagem durou de março 2011 a novembro de 2014 (a chamada estiagem meteorológica), na realidade duas estações de inverno.

Porque é que falamos então que a estiagem está continuando até agora?

Onde a caatinga está intacta, a natureza se recuperou durante o ano de 2014 e a estiagem acabou. Onde a caatinga já foi tirada ou muito modificada, a estiagem continuou até 2015 apesar da chuva, é a estiagem antropogênica, quer dizer a estiagem em consequência das ações predatórias humanas.

Assim como a natureza nos mostra, deveríamos aprender a viver com a quantidade de água que se tem. Isso se chama o manejo da oferta de água. Até os irrigantes que usam água do Rio São Francisco estão sentindo que a água do rio é finita e todos os usuários precisam economizar o seu uso se querem ter água no futuro. Para ter bastante água de beber numa estiagem podemos aumentar a área de captação ou construir várias cisternas em lugar de ter somente uma. Um barreiro trincheira enche às vezes em uma chuva forte como aconteceu em fevereiro 2012. É importante proteger mais as aguadas da evaporação de 3000 mm por ano: pode se cobrir as aguadas ou deve se fazer aguadas com 4 metros de profundidade. O mais importante é a preservação da caatinga, o seu aproveitamento sustentável e ações de recaatingamento, porque as plantas e animais da caatinga se adaptaram nos últimos 10 mil anos perfeitamente ao clima semiárido e convivem com o déficit de água durante a maior parte do ano.

Qual é a previsão da chuva para o início de 2016?

O Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos de 10/12/2015 constata a presença de condições de El NIño forte para a primeira metade de 2016. Confira no site: http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_advisory/ensodisc_Sp.html

No Brasil, o CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos publicou a previsão seguinte para o trimestre de dezembro 2015, janeiro e fevereiro de 2016:
“A previsão da chuva para o trimestre de janeiro a março de 2016 indica uma maior probabilidade do total de chuvas ocorrer abaixo do normal em grande parte das Regiões Norte e Nordeste, com probabilidade de até 50% para o nordeste do Amazonas, Roraima, Amapá centro-norte do Pará e do Maranhão; e de até 40% na área central do Amazonas, norte de Mato Grosso, Tocantins, norte de Goiás, extremo norte de Minas Gerais, centro-norte e oeste da Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e os sertões da Paraíba e Pernambuco. Para toda a Região Sul, a previsão indica maior probabilidade de chuva acima do normal.”

A previsão para o Semiárido é de menos chuva que o normal!

Quais são as lições da estiagem de 2010 a 2015 e da previsão de El Niño para 2016?

O clima no mundo ficou relativamente estável durante os últimos 10 mil anos, com uma variação de temperatura de cerca de um grau para cima ou para baixo. A partir do início da Revolução Industrial há 200 anos o clima começou a mudar. As previsões sobre os efeitos das alterações climáticas até 2100 para as regiões tropicais da América do Sul, das quais o Semiárido faz parte, apontam para temperaturas de 2 a 5 graus mais elevadas e chuvas torrenciais, com secas prolongadas, ondas de calor e aumento da ocorrência de ciclones tropicais, capazes de prejudicar ecossistemas inteiros e a agricultura , levando à escassez de água, fome, inundações, extinção de grande parte da flora e fauna e um aumento nos chamados "refugiados ambientais" (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, 2014). Estas previsões são muito sérias.

Ainda podemos evitar isso, se diminuirmos as emissões de gases estufa, diminuindo a queima dos derivados de petróleo, evitando desmatamento, reciclando o lixo, replantando a vegetação, etc.

No mês de maio deste ano, o Papa Francisco, na sua Enciclica sobre o meio ambiente “Sobre o cuidado da casa comum” disse “o futuro da terra e da humanidade está em nossas mãos”.

No início de dezembro, na COP 21 na França, os 195 países do mundo se comprometeram de assinar o Acordo de Paris onde cada país vai declarar o seu compromisso como restringir as emissões de gases estufa para a temperatura da terra não aumentar mais de 1.5 º C até o fim do século.

Em 17 de novembro, 2015, entidades da Sociedade Civil organizaram uma manifestação com 20 mil pessoas de todo o Semiárido, em Juazeiro e Petrolina, com o tema "Semiárido Vivo – Nenhum direito a menos!" Havia duas razões principais para a demonstração: a consciência de que, provavelmente, outra seca está pendente e a ocorrência da crise financeira do país em que o Governo Federal ameaça parar o apoio financeiro para as cisternas e outros programas para melhorar a vida do povo. No documento publicado, as organizações reivindicam uma mudança da política para o Semiárido, entre outras coisas para o setor hídrico:

- Intensificação da construção de cisternas para consumo humano e produção agrícola, estudar a possibilidade de estender o programa cisterna a todas as famílias que vivem em cidades de até 20 mil habitantes.

- Revitalização do Rio São Francisco e devolução do mesmo, pujante, para o povo do Semiárido.

- Avaliando a crise do rio São Francisco com o reservatório de Sobradinho, sem água, dentro da grande crise de água que afeta o país e começar imediatamente a estratégias de proteção de nascentes, mananciais e matas ciliares.

- Elaboração e implementação de um plano emergencial de uso das águas do Rio São Francisco, considerando a Lei 9.433/97 (Lei das Águas), que em situação de escassez prioriza o uso das águas para consumo humano e dessedentação animal.

A “Política de Convivência com o Semiárido", responsável por mudar significativamente a vida da população, deve ser intensificada. Os pobres não devem pagar a conta do ajuste fiscal do governo nem pelo descuido da sociedade com o meio ambiente.


Asa Brasil

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