Como foram as chuvas
passadas?
Como de costume
voltamos a falar sobre a previsão da chuva no Semiárido Brasileiro para os
próximos meses. Antes da previsão vamos fazer a avaliação da chuva dos últimos
cinco anos de outubro 2010 a setembro 2015. Olhando os gráficos ao lado que
mostram a chuva em Juazeiro, BA (medida na Estação Meteorológica de Mandacaru,
pela Embrapa Semiárido):
- Cada ano está
dividido em duas partes, uma é a estação chuvosa e a outra é a estação seca.
- A quantidade de chuva
anual varia entre 174 e 475 mm, ficando sempre abaixo da média dos últimos 40
anos de 508 mm.
- A estação chuvosa de
cada ano é muito diferente uma da outra: O mês mais chuvoso em cada ano é
outro.
- O mês mais chuvoso
destes cinco anos foi em fevereiro de 2012, num ano de estiagem.
- A estiagem durou de
março 2011 a novembro de 2014 (a chamada estiagem meteorológica), na realidade
duas estações de inverno.
Porque é que falamos
então que a estiagem está continuando até agora?
Onde a caatinga está
intacta, a natureza se recuperou durante o ano de 2014 e a estiagem acabou.
Onde a caatinga já foi tirada ou muito modificada, a estiagem continuou até
2015 apesar da chuva, é a estiagem antropogênica, quer dizer a estiagem em
consequência das ações predatórias humanas.
Assim como a natureza
nos mostra, deveríamos aprender a viver com a quantidade de água que se tem.
Isso se chama o manejo da oferta de água. Até os irrigantes que usam água do
Rio São Francisco estão sentindo que a água do rio é finita e todos os usuários
precisam economizar o seu uso se querem ter água no futuro. Para ter bastante
água de beber numa estiagem podemos aumentar a área de captação ou construir
várias cisternas em lugar de ter somente uma. Um barreiro trincheira enche às
vezes em uma chuva forte como aconteceu em fevereiro 2012. É importante
proteger mais as aguadas da evaporação de 3000 mm por ano: pode se cobrir as
aguadas ou deve se fazer aguadas com 4 metros de profundidade. O mais
importante é a preservação da caatinga, o seu aproveitamento sustentável e
ações de recaatingamento, porque as plantas e animais da caatinga se adaptaram
nos últimos 10 mil anos perfeitamente ao clima semiárido e convivem com o
déficit de água durante a maior parte do ano.
Qual é a previsão da
chuva para o início de 2016?
O Centro de Previsão Climática
dos Estados Unidos de 10/12/2015 constata a presença de condições de El NIño
forte para a primeira metade de 2016. Confira no site:
http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/enso_advisory/ensodisc_Sp.html
No Brasil, o CPTEC -
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos publicou a previsão seguinte
para o trimestre de dezembro 2015, janeiro e fevereiro de 2016:
“A previsão da chuva
para o trimestre de janeiro a março de 2016 indica uma maior probabilidade do
total de chuvas ocorrer abaixo do normal em grande parte das Regiões Norte e
Nordeste, com probabilidade de até 50% para o nordeste do Amazonas, Roraima,
Amapá centro-norte do Pará e do Maranhão; e de até 40% na área central do
Amazonas, norte de Mato Grosso, Tocantins, norte de Goiás, extremo norte de
Minas Gerais, centro-norte e oeste da Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte
e os sertões da Paraíba e Pernambuco. Para toda a Região Sul, a previsão indica
maior probabilidade de chuva acima do normal.”
A previsão para o
Semiárido é de menos chuva que o normal!
Quais são as lições da
estiagem de 2010 a 2015 e da previsão de El Niño para 2016?
O clima no mundo ficou
relativamente estável durante os últimos 10 mil anos, com uma variação de
temperatura de cerca de um grau para cima ou para baixo. A partir do início da
Revolução Industrial há 200 anos o clima começou a mudar. As previsões sobre os
efeitos das alterações climáticas até 2100 para as regiões tropicais da América
do Sul, das quais o Semiárido faz parte, apontam para temperaturas de 2 a 5
graus mais elevadas e chuvas torrenciais, com secas prolongadas, ondas de calor
e aumento da ocorrência de ciclones tropicais, capazes de prejudicar
ecossistemas inteiros e a agricultura , levando à escassez de água, fome,
inundações, extinção de grande parte da flora e fauna e um aumento nos chamados
"refugiados ambientais" (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas, 2014). Estas previsões são muito sérias.
Ainda podemos evitar
isso, se diminuirmos as emissões de gases estufa, diminuindo a queima dos
derivados de petróleo, evitando desmatamento, reciclando o lixo, replantando a
vegetação, etc.
No mês de maio deste
ano, o Papa Francisco, na sua Enciclica sobre o meio ambiente “Sobre o cuidado
da casa comum” disse “o futuro da terra e da humanidade está em nossas mãos”.
No início de dezembro,
na COP 21 na França, os 195 países do mundo se comprometeram de assinar o
Acordo de Paris onde cada país vai declarar o seu compromisso como restringir
as emissões de gases estufa para a temperatura da terra não aumentar mais de
1.5 º C até o fim do século.
Em 17 de novembro,
2015, entidades da Sociedade Civil organizaram uma manifestação com 20 mil
pessoas de todo o Semiárido, em Juazeiro e Petrolina, com o tema "Semiárido
Vivo – Nenhum direito a menos!" Havia duas razões principais para a
demonstração: a consciência de que, provavelmente, outra seca está pendente e a
ocorrência da crise financeira do país em que o Governo Federal ameaça parar o
apoio financeiro para as cisternas e outros programas para melhorar a vida do
povo. No documento publicado, as organizações reivindicam uma mudança da
política para o Semiárido, entre outras coisas para o setor hídrico:
- Intensificação da
construção de cisternas para consumo humano e produção agrícola, estudar a
possibilidade de estender o programa cisterna a todas as famílias que vivem em
cidades de até 20 mil habitantes.
- Revitalização do Rio
São Francisco e devolução do mesmo, pujante, para o povo do Semiárido.
- Avaliando a crise do
rio São Francisco com o reservatório de Sobradinho, sem água, dentro da grande
crise de água que afeta o país e começar imediatamente a estratégias de
proteção de nascentes, mananciais e matas ciliares.
- Elaboração e
implementação de um plano emergencial de uso das águas do Rio São Francisco,
considerando a Lei 9.433/97 (Lei das Águas), que em situação de escassez
prioriza o uso das águas para consumo humano e dessedentação animal.
A “Política de
Convivência com o Semiárido", responsável por mudar significativamente a
vida da população, deve ser intensificada. Os pobres não devem pagar a conta do
ajuste fiscal do governo nem pelo descuido da sociedade com o meio ambiente.
Asa Brasil
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