A história de que as urnas eletrônicas são seguras e
eficientes quanto à apuração dos votos durante as eleições pode não ser tão
real assim. O próprio mesário pode facilmente alterar os resultados, de acordo
com o especialista em falhas em urnas eletrônicas, Diego Aranha. "Durante
os testes de 2016, ficou demonstrado que uma vulnerabilidade no software
permite a um mesário malicioso fraudar os resultados coletados no Boletim de
Urna enviado para transmissão após provocar uma contingência", explicou.
Isso quer dizer que o mesário pode simular um defeito no equipamento para poder
acionar o Sistema de Apuração, o que permite a digitação manual dos dados do
Boletim de Urna.
A fraude pode acontecer neste momento, já que o sistema não
verifica com rigor se os dados digitados não foram adulterados, segundo Aranha.
O Brasil utiliza urna eletrônica desde as eleições de 1996 e, segundo Anderson
Ramos, idealizador do Roadsec, considerado o maior evento de hacker da América
Latina, é a única nação democrática que utiliza o sistema, puramente digital.
"Uma consequência direta desse fato é que tanto o sigilo do voto quanto a
compatibilidade entre os resultados da eleição e a intenção do eleitorado
dependem diretamente da qualidade do software de votação e de sua resistência
contra manipulação por agentes internos e externos", destaca Aranha.
Segundo o especialista, essa qualidade é questionável já faz algumas eleições,
como em testes de segurança realizados em 2012, quando a equipe conseguiu
derrotar o único mecanismo de segurança implementado no software da urna para
proteção do sigilo do voto. "Minha equipe conseguiu recuperar a lista
ordenada dos votos em eleições simuladas com até 475 eleitores a partir
unicamente de informação pública, com impacto potencial até em eleições
passadas.
De posse da lista ordenada de eleitores, é possível determinar com
certeza matemática as escolhas de cada eleitor. Essa vulnerabilidade permite
ainda determinar com exatidão a escolha de alguns eleitores ilustres que
votaram em instantes de tempo específico", destacou Aranha, mencionando
outra fragilidade. "Todas as urnas eletrônicas do país compartilham
segredo que protege os seus dados mais críticos e esta chave está ainda
disponível na porção desprotegida dos cartões de memória", acrescentou. O
especialista não sabe dizer se os problemas foram corrigidos ou se outros foram
introduzidos, já que em 2014 o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não realizou
testes para as eleições daquele ano. Apesar disso, a expectativa é que soluções
sejam adotadas, como o registro físico do voto conferível pelo eleitor, e que
este voto permaneça na seção eleitoral para auditoria ou recontagem - a medida
será implementada nas eleições de 2018. "Dessa forma há uma trilha de
auditoria independente do software de votação que resiste à manipulação do
software por agentes internos", justificou.
Bahia Noticias
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